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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Homem da Meia Noite


Aurora do Meu Recife

Rosário dos Pretos


Rosário dos Pretos
Socorro do gueto
Cravada no morro
Antiga e calada
Quase abandonada
Reduto de escravos
Indulto de forros

No subterrâneo
Atravessadouro
Conexas fontes
Expelem-se abundantes
Suas águas contantes
Pelas bicas em jorro

Na torre, seu sino
Corujas em agouro
Quebrando o silêncio
Tornando-se imenso
Mistério extenso
Em seu abrigadouro

Quando à meia-noite
As luzes se apagam
Tambores se calam
Lamentos e choros
Recordam a senzala
Tempos de mordaça
E açoite no tronco


Rosário dos Pretos
Vos dê proteção
Glória, redenção
Vós sois o socorro




Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Olinda

Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Olinda



Largo do Bonsucesso, 45 - Bonsucesso



Construída na segunda metade do século XVII é a primeira igreja em Pernambuco a possuir irmandade formada por negros. O objetivo dos escravos e de alguns libertos era criar um referencial comum ao branco, adaptando-o às suas crenças originais e língua, pois, ao negro, não eram permitidos o acesso às igrejas dos brancos e a participação em associações, irmandades e confrarias. Em volta da igreja, os negros promoviam folganças denominadas Congos, uma tentativa de resgatar as festas religiosas da África. Em 1702, foi instalado um hospício na igreja idealizado pelo bispo Francisco de Lima. A finalidade era hospedar os missionários responsáveis pela catequese dos índios. Recentemente, em 1998, ao passar por restaurações, foram descobertas pinturas que imitam pedras preciosas e o marmorizado dos altares de madeira das igrejas mais ricas da cidade.


Olinda






segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sombras


Sombras


Amiúde em flagelo no meio da noite
Acordo e ouço um sussurro no ouvido
Apresso-me, corro e anoto o que ouço
Mas nem sempre sei qual é mesmo o sentido


Confuso e contido penso estar louco
Introspectivo crendo que é um delírio
Contudo obedeço não me finjo de mouco
Se não escrevo esqueço o que me foi dito


E com muito esforço sem quebrar o rito
Com a mente em estado de total absorto
As mãos psicografam o sombrio manuscrito


Inquieto e esvaído peno não estar morto
Talvez se estivesse não tivesse ouvidos
Tampouco sentido tantos desconfortos

Amor Platônico




A pessoa que anda com a verdade
Pode ser que não viva um mar de rosas
Mas portanto se a mesma é mentirosa
Sua vida é um poço de maldade
Em sua mente habita a falsidade
Com a malícia ela está acostumada
Sua sina é viver desconfiada
Maquiando sua culpa ela acusa
Carapuça só cai como uma luva
Na cabeça daquela que é culpada

Como as ondas do mar não tem sossego
Assim vive a pessoa mentirosa
Sua noite de sono é tenebrosa
E seu dia é como nevoeiro
Vive um lôbo em pele de cordeiro
Escondendo-se quando é apontada
Quando fala a verdade é uma piada
Traiçoeira tal qual curva com chuva
Carapuça só cai como uma luva
Na cabeça daquela que é culpada
Tudo que construimos nesta vida
Não pertence a nós nem a ninguém
Como um dia se vai e outro vem
Não sabemos a hora da partida
Mas que ela virá ninguém duvida
Para alguns pensar nisso é um tormento
Sua alma já ingressa em sofrimento
Sua viagem será como um degredo
Como um cofre sem trancas nem segredos
Seu tesouro é seu conhecimento

Como o Carvalho

Assim como o carvalho triste, surrado pelas tempestades impiedosas, sou.
Feliz por resistir as adversidades postas pela vida, por gloriosas batalhas tidas.
O tempo me fortalece, apesar das impostas marcas e deformações que me causa,
Minha pulsação permanece compassada, firme e oposta ao fracasso e a falência.
Hei de sempre resistir
Os ventos sopram ao meu favor
Mesmo que traga muita dor
Com seu furor mostra o que sou
Me fortalece e me faz crescer

Não sucumbir é minha lei
Até que chegue minha vez
Por centenários viverei
Nenhum mal tempo me faz perecer

Até que chegue minha paz
Nunca, jamais serei fugaz
Cada vez mais estou mais tenaz
Ao chão que se dispõe a me estabelecer


Não curto zumbaia
Não é minha praia
Não sou de gandaia
Sou de fina laia
Se me arma tocaia
E espera que'u caia
Com minha zagaia
Não fujo da arraia.

1965

Tranca de porta era tramela
Fruteira era gamela
Gilete era navalha
Saco de açúcar virava toalha,
Lençol, roupa, até mortalha
Existia o lambe-lambe
O caixeiro viajante
O vendedor de cuscuz
Ainda se usava cadeeiro
Cofrinho era mealheiro
Prateleira tinha chapuz.
Naquele tempo eu nascia
Acreditava em cegonha
Temia as carantonhas
calungas e carrancas
Tomava susto e tremia
Lembro de tudo que via:

Moedor de carne
Tempero pilado
Coador de pano
Café bem torrado
Carrinho de lata
Boneca de Pano
Colcha de retalhos
Bola de molambo
Telhado de palha
Casebre, mocambo
Varal de cordel
Saco de papel
Cordão barbante
Concha de quenga
Boneco gigante
Uvas agostenga
Remédio caseiro
Água de quartinha
Panela de barro
Quermesse, lapinha
Placas de carro, amarelinha
Esconde-esconde,pega-pega
Cirandinha, cabra-cega.

Olinda Capoeira

Olinda Capoeira 
Foi Baccaro quem chamou
Capoeira pra Jogar
Meu mestre me ensinou
A honrar o meu cordel
E também meu abadá

Por Mestre branco eu fui batizado
Meu sangue de escravo, minh'alma nagô
Meu cabelo, minha ginga, meu traço
Meu canto, meu brado, africano sou

Em Olinda aprendi capoeira
Subindo as ladeiras
Ao som do berimbau
Vim do Amparo, subi a ribeira
Marcando carreira, saltando degraus

Olha a chapa
Resposta é Chibata
A cotovelada
Escala de mão


Olha o gancho
Segura a ponteira
Martelo, forquilha
E o esporão



Galopante
Rebate tesoura
Tombo da ladeira
Rasteira de mão



Corta Grama
Vôo do morcego
Olha a Vingativa
E a chapa de chão



Cabeçada
Segura a queixada
O rabo-de-arraia
E o escorão



Meia-lua
Olha a boca de calça
Segura a Abertura
e o arrastão


Sou de Olinda
Sou da terra das ladeiras
Sou de Olinda
Sou de Olinda Capoeira

Salve, salve, Mestre Bimba !
Patrono da Regional

Salve Mestre Nascimento !
Salve Pernambuco, sua terra natal

Pernambuco é cultura
Leste, Oeste, Norte ou Sul
É a terra dos altos coqueiros,
Capoeira, frevo e maracatu.
Jogo de dentro e de fora
 
Olha a ponta da bicuda
Pula e foge num aú
Tenho amuleto sagrado
E abençoado por Omolu

O meu corpo foi fechado
Pelo sangue de Zumbi
Se você não acredita
Não mexe comigo, eu não sou daqui

Eu cheguei de muito longe
Tenho raiz quilombola
O meu nome é Capoeira
Eu sou de Olinda, mas venho de Angola

Não tenho medo de nada
Nem de boca de siri
São Bento é minha guarda
Mandinga nenhuma encosta em mim

Ou você marca carreira
Ou entra na roda e joga
Se engole negaça dou rasteira
No jogo de dentro, no jogo de fora
Mestre Bimba criou
Baccaro Gostou
Mestre Branco ensinou
Capoeira em Olinda começou

Aprendi a tocar Berimbau
Atabaque e caxixi
Pandeiro, ganzá, berra-boi
Capoeira chegou e ficou
No meu sangue entrou
Não vai mais sair
Esta é a história de um casal de escravos...Ele querendo sair, à noite, escondido, para jogar capoeira com outros escravos enquanto a Negra, ardendo em chamas, querendo o aconchego dele, faz chantagem para que ele fique e se entregue aos seus caprichos...
...Mas, ele vai...
É assim:

Meu amô
Num qué qu'eu vá,
Meu amô
Num qué qu'eu vá
Pra roda de capueira
E chamá meu camará

Eu disse qui vô
Mundice num sô
Ela disse, mô:
— Eu disse : num vá

Pruquê se cê fô
Num tem mais amô
Conto pra ioiô
Conto pra Iaiá

Já disse qui vô
Cum medo num tô
Nem de ioiô
Nem de iaiá

Eu vô, eu vô
Eu vô pra Olinda
Se oiço qui cê diz
Madrugada finda
E num chego lá

Coqueiro balança
Na beira do Má
Na areia dança
Na puêira fina
Capueira ginga
Joga camará
Eu vou, eu vou
Eu vou pra Oinda
Saudar Leopodina
Bimba e Lua
Valei-me São Bento
Cheguei agora
Subi correndo
A Boa Hora

Ribeira me chama
Vou sem demora
Treze de Maio
O nêgo chora

Subindo o Monte
Amparo afora
Já ouço o choro
É o berimbau viola
Pedra de mó afia o fio da navaia
Agúia de capim enfia o fio da paia
Dipois de trinta, muié que num casa incaia
Menina nova cheira a leite, quem bebe, derrama e espaia
Mió vivê do quê virá puêra feito limaia
Num quero risco visti cêdo a mortaia
Pedra de mó farela o mio inté a paia
Eis que a noite se faz dia
Pondo fim na agonia
Dessa pressa de viver
Sabe-se que a vida é curta
Se não curte o tempo encurta
Aproxima-se o jazer.

Quem deixa a vida passar
Poupa-se para morrer
Chega ao fim sem perceber
Sem mais poder recuar.

Avareza

imagem do Google (sem autoria)

Avareza


 Avareza... 
Teu destino é a tristeza.
Construíste com migalhas,
negastes a quem precisava,
de luz, viveste em pobreza.

De que vale tua riqueza
se não tiveste a nobreza
em ajudar a um pobre irmão?

Nenhum pedaço de chão
nem mesmo um taco de pão
cedeste com tua rudeza...

Mas quem viveu com braveza,
nadou contra a correnteza,
venceu todas as fraquezas
de ti só tem compaixão.

Avareza... 
Teu nome é também crueza,
frieza na mesma igualha,
dureza no peito espalha...
Detalhas toda rijeza
que cabe em teu coração.
A pessoa que anda se escondendo
Que não olha no olho quando fala
Que por pouco ou indireto se abala
Treme muito pois algo está devendo
Se não deve não teme mesmo crendo
Que a vida é cercada de armadilhas
Mas se deve se vê como uma ilha
Solitária e cercada o tempo inteiro
Vê que a paz não se compra com dinheiro
Naufragando num mundo de mentiras
Ingratidão
Sobrenome: traição
Faltaste com a bonança
Desconfiança lançaste
Teu mundo é como prisão
Sofismas, não tens razão
Germina o grão que plantaste

Ingratidão
Endereço: solidão
Desprezaste a confiança
Nem esperança prestaste
Não tens consideração
Por quem te deu a missão
E te escolheu como máter

Desapegado

Desapegado

Quem tem Cristo como mestre
Não vive a se enganar
Sabe que a vida terrena
Num dia há de se acabar
Da terra somos colonos
De nada aqui somos donos
Nada podemos levar

Quem segue seus mandamentos
Não sofre as duras penas
Nem se prende ao que é matéria
Sabe que a vida é pequena
Procura ser generoso
Honesto, humilde e bondoso
Pra que viver valha a pena

Sabe que tudo que tem
Nesta vida é emprestado
Que deve fazer bom uso
De tudo que lhe foi dado
E quando chegar a hora
De partir pra eterna Glória
Devolverá por legado

Amor Platônico

Durante bom tempo sonhei em um dia te ter
Até que enfim acordei e pude perceber que
Melhor continuar te querendo do que realmente te ter
Assim eu preservo um sentimento que desejo nunca perder
Assim continuas perfeita e meu sonho pra sempre hei de ter
Acordo pra ficar no sonho e nunca, jamais, te esquecer...

Tudo Passa

                         Hora passa...
                               Dia passa...
                                      Ano passa...
                                              Tempo passa...
                                                           Vida passa...
                             Você viu?
                                    Não?
                                    Passou!

Filho da Aventura

Filho da Aventura
 
Sou filho da aventura
Da história em segredo
Do medo e loucura
Loucura do medo

Atentados sofri
Por fim resisti
Até que nasci
Hoje eis-me aqui

Vítima não sou
Talvez redentor
Ou libertador

Sou filho da culpa
Não filho da puta
Mas não sou culpado
Da insana conduta
Do amor transloucado
Da tara maluca
Por qual fui gerado

Sanguessuga

 
 
Tu que vives do arrego
qu'és morcego, sanguessuga,
sugar sangue é teu emprego,
não tens apego a labuta.

Com medo nunca madrugas;
em fuga, não tens sossego;
carrego em tua mente suja;
confusa mentes em segredo.

Tua mente te auto acusa
Só mentes para ti mesmo.

Sem Hora

Chega
Senhora
É hora
Implora
Ancora
Demora
Explora
Amola
Cai fora
Vou embora
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Sem o Ocaso

Sem o Ocaso

Atmosfera cinzenta
Aurora sem o arrebol
Nuvens de cor magenta
Formando um grande lençol

Dia frio, silencioso
Mar sem sossego, nervoso
Ocaso sem ter o sol

Alagamentos, penúria
Chegada da noite escura
Só a lua como farol

Em luto, viúva
a lua
Misteriosa e soturna
 Chorosa, vertendo chuva
Lastima não ter o sol

Frases de fim de romance

         Se alguém te abandona sem dar-te explicação, não questiones o que fizeste, mas sim o que não fizeste.




Diria-te o que sinto em nenhuma palavra, numa folha em branco e sem discrição, apenas com um ponto final


A Cara da Dor

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